E tão infinita será a nossa paciência e a nossa capacidade de perdoar os erros do passado, desculpando assim tudo o que a sociedade nos obriga a ‘engolir’ enquanto mulheres.
Ter um dia especial para comemorar a maternidade é uma boa oportunidade para refletirmos o que nos trouxe até aqui… tanta incoerência gerada através do papel que assumimos, ao longo do tempo, na sociedade…papel que nos obriga, muitas vezes, a exceder as nossas capacidades humanas.
Olhando para trás, e passeando pela história da emancipação da mulher, podemos conseguir nos situar no contexto histórico constatando que muito já foi conquistado por nós, mas ainda estamos a meio de um processo que caminha em passos de caracol…muita desta lentidão é gerada pela própria mentalidade da mulher ao longo do tempo, que, munida da (baixa) estima herdada de uma sociedade machista e seletiva, ainda hoje reflete o ‘ser inferior’ que ‘somos’, quando não faz valer os seus direitos, trabalhistas, por exemplo, e como cidadã igualmente capaz.
Nos debatemos como peixes fora d’água quando tentamos nos situar no tempo, entre o passado e o futuro que merecemos.
Estamos mesmo a meio caminho…
1913, London, England, UK — Suffragettes who cycled from various parts of England to London to attend a 1913 meeting, advertise that they are law abiding, so as to distinguish themselves from the militancy of activists such as Mrs Pankhurst. — Image by © Hulton-Deutsch Collection/CORBIS
A mãe contemporânea vive um desconforto que vai além do acumular de tarefas e funções na sociedade.
Demos passos importantes para a independência social e financeira, mas continuam gravados na memória do nosso DNA o conceito de Platão que considerava a natureza das mulheres inferior à dos homens, na “capacidade para a virtude”, a mulher era vista por ele como um ser sem raciocínio, comparando-a até aos escravos. Antes da revolução na área da obstetrícia as mulheres eram vistas como ‘objetos’ de parir, educar e criar, e passavam grande parte das suas vidas grávidas, não tendo nenhum poder de escolha em suas vidas… muitas vezes nem o marido escolhiam… As suas obrigações eram venerar o marido, educar e criar os filhos, cuidar da casa e manter-se submissa ao seu marido.
Ainda hoje temos que esbarrar no estereótipo de sexo frágil, de seres inferiores e menos capazes, principalmente na selva do mercado de trabalho…nossas carteiras indicam a nossa inferioridade em relação aos homens, provando que ainda temos muito caminho para caminhar.
Nós, mães, mulheres, continuamos infinitas na nossa capacidade de sermos humanas, multidimensionais, únicas, omnipresentes…
Mas infelizmente ainda não podemos afirmar que a desigualdade de género já não exista e nem que as representações sociais da mulher já não são como na época das nossas avós…ao longo do tempo acumulamos vitórias na luta pela liberdade de sermos a mulher que queremos ser, mas ainda vivemos o processo de mudança de mentalidades e da forma como a sociedade representa e premeia a mulher em todos os seus papéis na sociedade.
Nós continuamos a querer ser profissionais fantásticas e dedicadas, responsáveis e produtivas, mas que isso não interfira no desempenho do nosso papel mais fundamental e biológico: sermos MÃES!
Talvez seja este o maior dos nossos confrontos pessoais da atualidade, queremos a nossa independência financeira, queremos ser profissionais excelentes e mães e esposas dedicadas, mas ficamos perdidas algures neste processo, algo sempre fica para trás e assim chegam as nossas frustrações…ao que a sociedade nos obriga…
As mulheres compõem uma parte importante da mão-de-obra no mercado de trabalho e, inversamente ao que acontecia no passado, poucas são agora as que ficam em casa, mas só nós sabemos o quanto nos custa delegar as tarefas que são tão ‘nossas’, porque sim, também fazemos parte da mudança, da evolução, e não esquecemos tão rápido o nosso passado; a sociedade faz- nos o favor de lembrar, o tempo todo, o nosso lugar, mas também nós somos responsáveis pelo desconforto que vivemos quando permitimos, por exemplo, que um empregador nos obrigue a cumprir as funções trabalhistas enquanto temos o direito adquirido de amamentar os nossos filhos.
Não dar a condição necessária a mulher/mãe profissional de exercer o seu papel mais natural é uma maneira de ludibriar os direitos que adquirimos ao longo do tempo. E não fazer valer estes direitos é dar um passo atrás no processo de evolução da mulher na sociedade.
De facto, esta foi uma luta que teve início graças ao contributo de mulheres muito determinadas, enérgicas e cultas no passado. Contudo, ainda hoje, sem precisar de usar métodos tão radicais, muitas mulheres continuam solidárias e empenhadas nessa e noutras lutas… A mudança de mentalidades é um longo caminho a percorrer e todas nós precisamos ser parte desta mudança…
Então, afinal, como é ser mãe no século XXI?
A condição primordial é ser infinita… 🙂
Infinitas no tempo – O nosso tempo não pára…aliás, que tempo?
O nosso dia tem 24h de trabalho e prazer que não se encerra, somos infinitas na nossa capacidade de estarmos sempre prontas, sempre alertas! Não há necessidade que um filho passe que não haja uma mãe atrás tentando supri-la…
Nestas 24 horas temos que gerir trabalho, horas extras, tarefas em casa, cuidado com os filhos, tempo para sermos esposas, mães, profissionais, seres sociais, entre tantos outros papéis.
Infinitas na bondade – As nossas dores são sempre secundárias (por maiores que sejam) quando estamos diante de um filho com febre, temos um pó mágico que nos enxuga as lágrimas quando é no rosto da nossa cria que caem outras.
Temos que saber ouvir, dar colo, atenção…estarmos atentas a tudo e a todos, colocámo-nos, muitas vezes, em segundo plano para que todos à volta estejam confortáveis.
Infinitas na nossa capacidade de sermos tudo ao mesmo tempo agora!
E assim sermos felizes com tudo o que conquistamos 😉
E no fim do dia, depois de contar uma história, receber o maior prémio pelo dia atribulado vivido:
Um beijinho e um abraço dos nossos filhos 🙂
Feliz Dia da Mãe! 🙂